Mergulho

O problema mais grave de todos é que passo o tempo inteiro tentando prever o que vai acontecer comigo, que tipo de pessoa eu sou, ou que devo ser, ou que devo querer, procurando sempre o que é melhor pra mim... acabo perdendo a minha espontaneidade.

O lado bom disso é que quem é muito dramático exercita muito o seu lado criativo, através de sucessivos momentos em que se está fazendo uma tempestade num copo d’água.



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Eu devia conseguir relaxar mais, parar de me preocupar com a condição especial para que algo aconteça, com o momento ideal para haver sentido. Apenas que a vida aconteça... Mas não, eu sempre fico infernizando achando sentido para todos as coisas que vivi, agregando valores a tudo. Começo a chegar à conclusão que sou extremamente apegada, em tudo.


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A verdade é que faz tempo que tenho me sentido meio perdida. Como se estivesse numa parada de um ônibus às seis da tarde, esperando para ir pra casa. Tem os dois lados da moeda. Eu gosto muito de ser quem eu sou. Não tenho problemas com a projeção que fiz de mim mesma. Quando faço uma reflexão dos meus últimos gestos, eu acabo sempre achando que fiz mesmo a coisa certa, e me guio pela razão ao lado do coração. Dois pesos e duas medidas. Sempre fui assim. Só gostaria mais de obedecer à razão, que me manda buscar equilíbrio na vida. Buscar a leveza, o estado de concentração plena. Mas parece que grande parte do tempo acabo ligando o dispositivo: preciso prestar algo à alguém.