
Um completo e absoluto nada. Silenciosa, uma brisa soprava, me dando desequilíbrio. Percebi então que eu era o universo. Sobre meus pés estava a terra, como que embalsamada por uma placa de gelo, que se esvaia entre meus dedinhos. Sem mover um único músculo, observei o que estava acontecendo. Eu não era o universo, só era tão grande quando ele. Minhas mãos podiam alcançar as galáxias, se eu tivesse coragem de movê-las. Talvez, com minha língua espichada para o alto da cabeça, eu pudesse lamber a pontinha da lua.
Mas a Terra estava sobre meus pés. Via a água, as florestas, os mares, os campos, as cidades, as nuvens, os satélites e os foguetes preso embaixo dessa fina camada de gelo, que me apoiava naquele frio e inerte nada que era o universo onde eu me encontrava.
O sonho mais megalomaníaco de todos que já pude sonhar. Maior do que sonhar em ser um convidado da Santa Ceia, como soube de um conhecido um tempo atrás. Disseram-lhe que estava com a auto-estima baixa, nessa ocasião. Não posso nem tentar adivinhar o que poderia significar tal sonho para a minha psiquiatra tentando ser junguiana.
Mas o fato é que mesmo sendo uma cúmplice do universo eu não podia me mover, pois aos meus pés estava todo o mundo que eu conheço e que sempre vivi. De nada me adiantava tocar as estrelas, pular e tentar alcançar o sol, se com o mínimo movimento eu poderia simplesmente quebrar tudo. Lembrei-me então das situações em que minha mãe me chamava de “mão de garrancho”, onde tudo que tocava virava cacos. Não entendia o que era garrancho, mas o sentido literal não importava, eu entendia o que ela queria dizer.
Que dilema! O mundo aos meus pés e o universo como meu companheiro!
Pesadelo dos brabo esse.... Leveza nunca foi o meu forte.